segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os avós têm vida própria

"De cada vez que me sento no chão para brincar com as minhas netas, e sinto uma guinada violenta nas costas, tenho a certeza de que se é verdade que os avós não estragam os netos, não há dúvida nenhuma de que os netos estragam os avós! Que o diga a coluna vertebral de todos aqueles que passados os cinquenta anos, tentam fazer as acrobacias de que eram capazes quando eram pais, tais como pendurar a criança numa das ancas, saltar com ela ao colo por cima de um muro mais alto, tirá-la do parque de uma assentada, ou segurá-la no topo de um escorrega.
O que vale é que as façanhas deles (a Carmo e a Madalena já andam, e falam pelos cotovelos como a avó!!!) nos ajudam a esquecer que o tempo passa da mesma forma para todos, e que enquanto eles crescem e se tornam a cada dia mais capazes, nós perdemos uma habilidade qualquer, senão mental, pelo menos motora, numa lista de achaques que aumenta vertiginosamente. Calma, não estou a fazer o epitáfio dos avós, mas apenas a constatar aquilo que por vezes tentamos escamotear, na ânsia de ajudarmos os nossos filhos, e de fazermos as suas vezes: ficamos de língua de fora com mais facilidade, é um facto.
Tomar consciência das nossas limitações, com a sabedoria que supostamente a idade nos deu, só pode contribuir para encontrar a melhor maneira de sermos avós. E a conversa provavelmente ficaria por aqui, se não tivesse constatado, desde que pertenço ao clube e estou mais atenta, que há avós que aceitam uma sobrecarga de netos, que não faz qualquer sentido, e os deixa exaustos, envelhecidos, privados de vida própria. Substitutos de creches ou jardins de infância, constantemente albergue de sextas, sábados e domingos, não são capazes de colocar limites ao uso que os seus filhos lhes dão. Filhos convencidos de que a vida dos pais é deles para administrar como lhes apetece: afinal o que podiam ter de mais importante para fazer?
Não é fácil lidar com a culpa que nos provoca, mesmo depois de um dia longo de trabalho, estarmos no sofá a ver a telenovela, enquanto umas ruas abaixo a nossa filha/filho dá banhos e faz jantares, e não há de certeza avó nenhuma que acorde a meio da noite e, imaginando a filha sem dormir, sinta vontade de se precipitar para casa dela, e oferecer-se para ficar com os bebés. Mas se tivermos a sorte de ter filhos bem educados, serão eles os primeiros a dizer-nos que já fizemos a nossa quota parte, e que ganhámos o direito a noites bem dormidas, a fins–de-semana românticos e sossegados, aos nossos próprios hobbies, amigos, projetos, etc e etc. A culpa que resta, e resta sempre!, vai sendo sensatamente negociada connosco próprios, apaziguada por noites em que de coração aberto, e com total disponibilidade, ficamos com os nossos netos, para que os nossos filhos se vão divertir, ou de mil e uma maneiras que inventamos para tornar a vida da nova família um bocadinho mais fácil.  Mesmo com guinadas nas costas..."     Isabel Stilwell

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