D. Manuel Monteiro de Castro lançou a polémica. O novo cardeal português entende que o papel das mulheres é educar os filhos e, por isso, elas deviam remeter-se ao lar.
Este é apenas um pequeno resumo do que disse o cardeal. Entre outras coisas afirmou que: "a mulher deve poder ficar em casa ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira a que possa aplicar-se naquilo em que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos". Que "a melhor formadora é a mãe, e se a mãe não tem tempo para respirar, como vai ter tempo para formar?". Que "a mulher perdeu muito do valor que tinha" e que "devíamos dar muito mais valor à família e ao valor da mulher da casa".
Ora, entre tantas afirmações com conteúdo tão relevante para mim que sou mãe e mulher, dei por mim a pensar como seria possível eu ficar em casa, voltar a engravidar e deixar que o meu querido marido suportasse todas as despesas que tão controladamente contraímos.
A par disso, imaginei logo um cenário pouco fértil em termos de relações afetuosas e disponibilidade por parte do pai. Dos poucos casos que conheço, a permanência da mãe em casa significa uma maior permanência do pai no trabalho e crianças criadas e educadas quase em exclusivo pelas mães.
A solução não passa, económica nem socialmente, por ficar em casa. Mas parte do que o cardeal proferiu faz sentido e os homens devem meditar sobre o assunto mais do que nós, mulheres. O tempo de que as mulheres precisam para exercer o seu papel de mães não é nem vai ser, pelo menos num futuro próximo, retirado no trabalho. É retirado em casa quando o marido não partilha as tarefas domésticas e vive uma vida a pensar que a sua mãe rejuvenesceu e adoptou uma nova identidade. É retirado em casa quando ela, a mãe, substitui as horas de mãe por horas passadas na cozinha, no supermercado e em frente à tábua de passar a ferro.
Infelizmente, em Portugal, os homens têm, em média, muito mais tempo para ser pais do que as mulheres para ser mães. Caro cardeal D. Manuel Monteiro de Castro obrigada por se lembrar de nós, mães. Não pretendemos remeter-nos ao lar mas ficaríamos eternamente gratas se nos concedessem mais tempo para acompanhar o crescimento dos nossos filhos pequenos, sem qualquer supressão dos nossos direitos como profissionais.
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