Não resisto em partilhar algumas ideias que o psicólogo Eduardo Sá apresentou, numa das últimas palestras em que participou, no Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro. No âmbito do tema "Envolvimento Parental na Escola", o especialista começou por dizer que "a atual educação estraga as crianças".
O conferencista afirmou que "a estrutura tecnocrática, em que se transformou a educação, faz mal" e criticou o furor da formação técnica e científica que levou ao esquecimento de que "o melhor do mundo não é a escola mas as pessoas e, em particular, as relações familiares". "Estamos a criar uma mole de licenciados e de mestres aos 23 anos que esperamos que sejam ídolos antes dos 30 e o fundamental não é isso", "...estamos a exigir aos nossos filhos que sejam iguais a nós: que ponham o trabalho à frente de tudo o resto esquecendo-nos de brincar com eles", ressalvou.
Eduardo Sá lembrou que "a vida não acaba aos 17 anos com a entrada no ensino superior e que só os alunos que tiveram pelo menos uma negativa no seu percurso educativo é que deviam entrar no ensino superior porque estamos a criar uma geração de pessoas imunodeprimidas".
O psicólogo acha fundamental que tenhamos a coragem, a ousadia e a verticalidade de dizer que a maior parte das pessoas se sente mal-amada e acha fundamental explicar aos nossos filhos que "é mentira que acertemos no amor à primeira e que é notável aquilo que se passa dentro do nosso coração". Afirmou, então, que "devia ser proibido dizermos aos nossos filhos que se deve casar para sempre". Segundo ele, "sempre que namoramos mais um bocadinho, casamo-nos mais um pouco e sempre que deixamos de namorar, divorciamo-nos em suaves prestações".
Eduardo Sá considera que o casamento é tão sagrado como frágil. "É uma experiência sagrada porque duas pessoas que decidem comungar-se é uma experiência tão preciosa que é sagrada. Mas é frágil porque, às vezes, os pais estão tão preocupados com a educação dos filhos que se esquecem de namorar todos os dias". E para ele, tal como para mim, "pais mal-amados tornam-se piores pais". É, por isso, fundamental que "a relação amorosa dos pais esteja em primeiro lugar, antes da relação dos pais com as crianças".
Eduardo Sá defendeu que as crianças devem sair o mais tarde possível de casa e que os jardins de infância deviam ser gratuitos para todos, não comprendendo "como é que a educação infantil e o ensino obrigatório não são a mesma coisa". O psicólogo mostrou-se a favor de jardins de infância onde as crianças brinquem e ouçam e contem histórias, tenham educação física, musical e visual.
O orador disse ainda não achar que "mais escola seja melhor escola", criticando os blocos de aulas de 90 minutos porque aulas expositivas daquela duração são amigas dos défices de atenção e 10 minutos de intervalo não chegam para desanuviar. "Quanto mais as crianças puderem brincar, mais sucesso escolar têm", defendeu.
Por fim, acrescentou que "os pais estão autorizados a ser vaidosos com os filhos mas proibidos de querer criar jovens tecnocratas de fraldas". "Devia ser proibido que as crianças saíssem do jardim de infância a saber ler e escrever", advertiu.
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