quinta-feira, 19 de julho de 2012

De outra forma, não fazia sentido

sexta-feira, 13 de julho de 2012

"Eu sei que, dito desta forma, não é bonito... Mas parece-me que muitos pais se dão eles-mesmos aos seus filhos muito mais como exemplo de vaidade do que como objeto de orgulho."


Gosto tanto, mas tanto de ler as crónicas de Eduardo Sá. Presenteio-vos aqui com mais uma:

"Num estudo universitário que orientei fomos à procura do que são as prioridades dos adolescentes portugueses de hoje. E (surpresa!...) eles consideram como aspetos fundamentais para a sua vida: a família, os amigos, as relações amorosas... e o futuro. Como se vê, nada disto parecem ser valores fora de moda. E, muito menos, indícios de risco.
Notícias recentes afirmaram, com alguma exuberância, que os adolescentes portugueses trocariam 100 mensagens escritas por dia. Temos, portanto, 3000 mensagens por mês ou, se preferir, 36000 por ano. Atendendo a que, sempre que podem, eles dormem 12 horas, isso leva a concluir que, no tempo em que estão acordados, trocam mensagens entre si em cada 2 minutos. Se cada mensagem levar 4 segundos a ser digitada, os adolescentes gastarão 144 000 segundos por ano em mensagens: 2 400 minutos. Ou seja, 40 horas (quase dois dias) por cada ano a trocar mensagens. É claro que os pais e outros adultos (alguns, incompreensivelmente) que lhes permitem trocar mensagens ao jantar ou durante as aulas logo se apressaram a deitar as mãos à cabeça diante deste furor de comunicação. Mas, a mim, não sei o que me preocupa mais: se a exorbitância das mensagens escritas dos adolescentes se o exagero da «solidão assistida» dos seus pais.
Reconheço que há ainda um discurso muito invejoso acerca dos adolescentes. Fala-se, sobretudo, dos riscos da depressão na adolescência, dos riscos da sexualidade na adolescência, dos riscos do suicídio na adolescência, dos riscos da anorexia na adolescência, dos riscos da toxicodependência ou dos riscos da internet. Mas raramente da saúde na adolescência. De tal forma é assim que (num estudo universitário que orientei) fomos à procura daquilo que são as prioridades dos adolescentes portugueses de hoje. E (surpresa!...) eles consideram como aspetos fundamentais para a sua vida: a família, os amigos, as relações amorosas... e o futuro. Como se vê, nada disto parecem ser valores fora de moda. E, muito menos, indícios de risco. Mas, se é assim, o que tem feito com que os pais enviesem a adolescência dos filhos? Tenho muito medo de ser injusto mas...acho que o que estraga os pais é deixarem de escutar os filhos com o coração e quererem conhecê-los, unicamente, com a cabeça. Ora, como todos sabemos, isso faz com que os pais vivam alarmados com os slogans acerca da adolescência com que se deixam empanturrar, como se os filhos, mal chegam à adolescência, devessem deixar de crescer com o pais mas, ao contrário, crescer para os pais. E devessem (quem disse que os maus exemplos não se copiam?...) pôr a carreira à frente da família, dos amigos, dos amores e do futuro.
Ora, se a família é fundamental para um adolescente porque é que, para a família, a carreira que ele venha a abraçar parece ser mais importante do que ele próprio, no seu todo? No meu entendimento, há um conflito enorme em relação aquilo que os adolescentes querem para o seu futuro e o que a família pretende para eles. Isto é: os adolescentes utilizam a admiração como «motor de busca» para o seu crescimento (escolhendo, muitas vezes, em função dela, profissões idênticas às dos pais) e os pais querem-nos, em inúmeras circunstâncias, muito mais como objeto da sua vaidade - hoje! - que do seu orgulho... algures, num futuro mais ou menos próximo. (Não é por mal! Mas é, seguramente, por precipitação.) Quando é assim, os pais que não concretizaram os seus sonhos de adolescência esperam que os filhos os adotem e os perfilhem e remetem, contra a vontade de todos, os filhos para uma «terra de ninguém» onde os sonhos parecem estar sempre longe demais. Porquê? Porque os adolescentes, quando se sentem pressionados pelos sonhos dos pais, por melhores que sejam as suas performances, parecem nunca os conseguir concretizar, em tempo útil. Ficam repartidos entre a admiração que tinham pelos pais - e que se vai quebrando diante de toda a angústia que sentem neles - e o mimetismo com que, duma forma envaidecida, os tentam replicar mesmo que, com ele, surjam (de menos!) o trabalho, a humildade, a perseverança ou o jeito afoito que faz com que se guarde para amanhã aquilo que pode ser feito depois de amanhã.

Eu sei que, dito desta forma, não é bonito... Mas parece-me que muitos pais se dão eles-mesmos aos seus filhos muito mais como exemplo de vaidade do que como objeto de orgulho. Isto é: falam, invariavelmente, das suas façanhas (onde são, invariavelmente, os vencedores) enquanto que as suas perplexidades, os seus erros ou as bugigangas em que se transformam, por vezes, os seus mais sérios sentimentos parecem envolvidos por uma invariável opacidade. E, como se não chegasse, silenciam aos adolescentes as histórias dos avós que fariam com que cada adolescente (apesar do inglês ou da informática, que dominam) percebesse que, ao pé de tudo o que os avós já teriam vivido até à respetiva adolescência, lhes restaria, unicamente, um orgulho interminável por eles... e um imenso «banho de humildade».
Orgulho e humildade são, mal eles sabem, os melhores amigos do futuro.
Mas, ainda assim, como são os adolescentes, por dentro? É saudável que choquem, por vezes, com as opiniões dos pais? É fundamental! Porquê? Porque isso pressupõe que, em primeiro lugar, têm opiniões, (por mais que elas se pareçam irrefutáveis diante quase tudo, o que só é possível quando ainda não se viveu... quase nada). E que, por mais idealizadas que elas sejam, não hesitam em rivalizar, através delas, com os seus pais para crescerem com eles. Se há, aliás, aspetos que me preocupam é o modo como parece faltar, cada vez mais, conflito de gerações ao crescimento dos adolescentes. Usando a ironia, seria motivo para dizermos: «conflitos de gerações, procuram-se!». Porque duas gerações que não assumem conflitos (em nome da família, em função da política ou de quaisquer outros valores) são gerações que parecem não querer (ou não poder) trazer-se uma para a outra, matizando conhecimentos e criando sabedoria. Às vezes, a nossa geração e a dos nossos filhos parecem evitar-se uma à outra, ao mesmo tempo que se desqualificam mutuamente em surdina. E isso é mau. Porque ambas parecem estar barricadas na sua vaidade e abrir-se muito pouco à identificação e ao orgulho (que só ela é capaz de trazer).

É bom que os adolescentes corram riscos? Sim! Mesmo que pareçam, invariavelmente, destemidos? Claro... O medo degusta-se com a experiência. Ficarmos mais velhos torna-nos mais aptos para compreendermos o medo. O que é elogiável para os pais: se os adolescentes são audazes não será tanto por não terem medos mas por se sentirem quase sempre protegidos diante deles! Ainda assim, a consciência dos medos é tão nítida para os adolescentes que isso os leva a sentirem-se unicamente protegidos pela noite (acompanhada pela presença protetora dos amigos), por mais que, mesmo nessas ocasiões, eles evitem falar de si: daquilo que os remexe por dentro, de tudo o que os deixa perplexos e daquilo que os faz sentirem-se pequenos e frágeis.

Ainda assim, é saudável que corram riscos? É incontornável. E faz bem!
Por mais que os riscos sejam muito mais calculados do que parece. Isto é, havendo pais a fazerem de pais, os riscos nunca representam um abismo, porque os bons exemplos fazem, como mais nada, discernir o bem do mal e o sensato do inconsequente. Por isso mesmo, pais que protegem de mais são maus pais. De tanto proteger expõem os filhos ao maior de todos os riscos: a ilusão de presumir que imaginar será viver.

Mesmo que os riscos se relacionem com a sexualidade? Nim!...
Isto é, sim, não há como não a experimentarem. E não, engana-se quem imagina que a sexualidade dos adolescentes é, regra geral, uma experiência gratificante e feliz. Pelo contrário! Seja qual o género em que se conjugue, a sexualidade na adolescência é atropelada por medos, por desempenhos ideais (que nunca se confirmam) e por um egoísmo (próprio de quem a vive assustado) que mais depressa a torna numa «masturbação assistida» do que numa experiência de amor. Mesmo assim, é bom que os adolescentes separem a pessoa que desejam, daquela com quem namoram e essas duas duma outra (a sua confidente) por quem têm amizade especial? Sim.
Porquê?
Porque estão a aprender a conhecer o desejo, o amor e a lealdade em relações diferentes, tentando não as baralhar nem as confundir. Mais tarde, esses formatos de relação serão «tudo em um». E, só então, eles estão preparados para amar.

Devem, por fim, os pais demitir-se de ser pais e, seja em relação ao que for, assumir-se como os melhores amigos dos seus filhos?
Nunca.
Pai e mãe são demasiado sagrados para serem desbaratados pela insensatez.
E devem seguir à risca muito mais os conselhos dos técnicos de saúde do que escutar os adolescentes com o coração? Nunca!
Por mais que a adolescência termine aos 30 e por mais que se sintam, diante do «’tá-se bem!» (que se terá tornado numa bandeira da adolescência) atropelados pelo receio dos riscos e pelos seus próprios sonhos (que adiaram) os pais, mal os filhos entrem na adolescência, parecem viver num interminável... «‘tá-se mal!». Ora, se for assim, a adolescência nunca é, como tem de ser, o primeiro grande balanço de vida que faz com que os pais, entre si, e em relação aos filhos, é claro, jamais deixem de crescer."

Escrito por Eduardo Sá Quinta, 12 Julho 2012 |

quinta-feira, 12 de julho de 2012

"Senhor primeiro-ministro: temos cara de palhaços? " de Tiago Mesquita


O texto de Tiago Mesquita intitulado "Senhor primeiro-ministro: temos cara de palhaços?" que se pode ler no blogue do Expresso "100 Reféns" é deveras interessante. Fiquei a pensar se não é menos perigoso um cego conduzir um automóvel do que o nosso primeiro-ministro governar este país, já que anda de olhos fechados!

Apresento aqui o texto na íntegra:
Tiago Mesquita (www.expresso.pt)
8:00 Quinta feira, 12 de julho de 2012

"Sem ofensa para os palhaços profissionais, que muito respeito, mas foi o que me ocorreu após ter ouvido o primeiro-ministro no debate do Estado da Nação. Até um "eu não vejo nenhuma razão para que os portugueses se sintam assustados" lhe saiu. Perdão? Falo por mim, mas quando o ouço falar desta forma ponho o nariz vermelho e pego logo na corneta. E se estava assustado, pior fiquei depois da demonstração de optimismo delirante a que assisti.

Em que mundo, ou melhor, em que país vive o senhor? Acha sinceramente que existe algum português vivo que ainda acredite nesse fadinho corrido do contentamento de quem está no poder desligado do país real? Os portugueses têm todos uma licenciatura em "igualzinho-ao-anterior-e-igual-ao-próximo" e doutoramento feito com muito bom, louvor e distinção na defesa da tese PSD + PP = PS = estamos lixados outra vez. Tudo feito presencialmente. Apesar de ter a certeza que algumas Universidades dariam com relativa facilidade equivalência a tudo isto só pela experiência demonstrada como cobaias bem comportadas às mãos de V. Exa´s.
Um milhão de desempregados depois, o país na miséria e os portugueses em dificuldades extremas. Dezenas de milhares de pessoas a entregarem as suas casas aos bancos. Bancos que os portugueses pagam quando estão prestes a ir ao charco ou com "falta de ar". Nacionalizações disparatadas e financiamentos escandalosos. Milhares de jovens sem futuro e obrigados a fugir do país. Corrupção a rodos. Os banqueiros a brincar aos governos. A Troika a ganhar dinheiro. Milhares de professores contratados com guia de marcha para o desemprego. Temos uma ministra da justiça, ouvi dizer. O cerco ao SNS, aos médicos e restantes profissionais de saúde - entregando de bandeja o que é de todos ao sector privado. A promiscuidade que alastra em vez de estancar. Impostos grotescos com efeitos devastadores. Agricultores desesperados. As nomeações escandalosas e os boys colocados. O roubo dos subsídios aos funcionários públicos e o aproveitamento de uma decisão do TC para possivelmente estender o corte aos privados, "cuspindo" na Constituição que nos deveria proteger. Posto isto, vê V. Exa algum motivo para preocupação, algo que deva assustar os portugueses? Não? Nada? Nem o défice a escorregar que nem um maluco?
Onde estão as políticas de emprego? Quando é que V. Exa se digna a olhar para as parcerias público-privadas, esse cancro que mina o Estado e que nos vai levar à desgraça orçamental e provável falência. Quando é que põe ordem nas contas públicas da Madeira, esse sorvedouro insustentável, calando de uma vez por todas aquela personagem insuportável que goza connosco, consigo e com o Presidente desta coisa a que chamam República sempre que abre a boca?

Dr. Passos Coelho: os portugueses têm todas as razões para estar assustados, ou não fosse o senhor o atual primeiro-ministro deste país."