segunda-feira, 29 de abril de 2013

Redefinir prioridades ou borrifar-se para elas!


«E um dia, nasce-nos um filho. Um colega morre. Perdemos um familiar. Um amigo de infância vai viver para outro país. Apanhamos um susto. Recebemos um diagnóstico de um médico que nos faz repensar tudo. Tudo. (...) Para passarmos a dar mais valor ao que realmente conta. E o que conta, mesmo? Os afetos. Os mimos. O tempo que passamos com as pessoas de quem gostamos. O dizer à boca cheia 'gosto de ti'. Ver o 'Gran Torino' e sentir aquela mesma dor. Chorar feito piegas com as cenas finais d'O Carteiro de Pablo Neruda', d'A Vida É Bela' ou de Cinema Paraíso . Rir enternecido com o Up e sentir na pele as dores daquele homem animado que tem mais carne e osso do que nós.

Estas linhas vão lançadas em direção a uma coisa lamechas, quase-quase-lugar-comum, daqueles que vemos no Facebook, com pensamentos bonitos que acabam em «Carpe Diem». Por isso, cá vai o maior cliché de todos: redefinir prioridades. Ou, em alternativa, borrifar-se nas prioridades. Das duas uma. Ambas são aceites, no momento de deitar fora o que não importa. São os dois bons sinais de crescermos, de vermos mais, de vermos mais longe, de vermos mais dentro. Ah, e mais outra: aperfeiçoar a capacidade de nos emocionarmos. É uma arte. Tem de ser trabalhada.»

Esta é apenas uma pequena parte do que Paulo Farinha escreveu na crónica desta semana. O resto podem ler aqui: http://www.dn.pt/revistas/nm/interior.aspx?content_id=3085294

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O verdadeiro amor


O médico então lhe perguntou:
- Porquê a pressa?
E ele respondeu:
- Todos os dias, neste horário, vou visitar a minha esposa que está num asilo.
E o médico comentou:
- Que bacana! Então vocês matam as saudades, batem papo, namoram um pouquinho!
E o velhinho diz:
- Não! Ela não me reconhece mais, por causa da sua doença.
O médico surpreso, então, pergunta:
- Mas porquê, então, tanta pressa para vê-la, já que não o reconhece mais?
E com um sorriso no rosto, o velhinho responde:
- Mas eu a reconheço! Eu sei quem ela é e o que representa na minha vida há tantos anos. Por isso todos os dias eu a reconquisto, como se cada conquista fosse única e verdadeira. Este é o verdadeiro amor!


O médico então lhe perguntou:
- Por que a pressa?
E ele respondeu:
- Todos os dias neste horário vou visitar minha esposa que está em um asilo.
E o médico comentou:
- Que bacana! Então vocês matam as saudades, batem papo, namoram um pouquinho!
E o velhinho diz:
- Não! Ela não me reconhece mais, por causa de sua doença.
O médico surpreso então pergunta:
- Mas por que então tanta pressa para vê-la, já que não o reconhece mais?
E com um sorriso no rosto, o velhinho responde:
- Mas eu a reconheço! Eu sei quem ela é e o que representa na minha vida há tantos anos. Por isso todos os dias eu a reconquisto, como se cada conquista fosse única e verdadeira. Este é o verdadeiro amor!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

"A ideia de fazer tudo para que os filhos sejam felizes, evitando que chorem, está ultrapassada. A teoria de disciplinar sem que a criança chore está desactualizada"


GORDON NEUFELD

Porque devem os pais pôr os filhos a chorar?

“As crianças precisam da tristeza, da tragédia para crescerem. Precisam de ter as suas lágrimas”, defende. Nos primeiros meses e anos de vida, o “não” dito pelos pais ajuda a disciplinar, em vez de estragar a criança. “Estamos a perder isso na nossa sociedade, não admira que as crianças estejam estragadas com mimos. Afinal, elas são sempre as vencedoras”, continua o investigador que esteve em Lisboa a convite da empresa BeFamily, do Fórum Europeu das Mulheres, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e da Associação Portuguesa de Imprensa.

Na conferência sob o lema “Vínculos Fortes, Filhos Felizes”, Neufeld defende que só se atinge o bem-estar através da educação e que esta deve estar a cargo das famílias e não do Estado. E para garantir o bem-estar de qualquer ser humano ou sociedade é necessário preencher seis necessidades.

A primeira é o “aprender a crescer” e para isso há que chorar, é preciso que a criança seja confrontada, que viva conflitos, de maneira a amadurecer, a tornar-se resiliente, a saber viver em sociedade.

A segunda necessidade é a de a criança criar vínculos profundos com os adultos, estabelecer relações fortes. Como é que se faz? “Ganhando o coração dos filhos. É preciso amarmos e eles amarem-nos. Temos de ter o seu coração, mas perdemos essa noção”, lamenta o especialista que conta que, quando lhe entram na consulta pais preocupados com o comportamento violento dos filhos, a primeira pergunta que faz é: “Tem o coração do seu filho?”, uma questão que poucos compreendem, confidencia.

E dá um exemplo: Qual é a principal preocupação dos pais quanto à escola? Não é saber qual a formação do professor ou se este é competente. O que os pais querem saber é se a criança gosta do docente e vice-versa. “E esta relação permite prever o sucesso académico da criança”, sublinha Neufeld, reforçando a importância de “estabelecer ligações”.

E esta ligação deve ser contínua – a terceira necessidade –, de maneira a evitar problemas. Neufeld recorda que o maior medo das crianças é o da separação. Quando estão longe dos pais, as crianças começam a ficar ansiosas e esse sentimento pode crescer com elas, daí a permanente procura de contacto, por exemplo, entre os adolescentes com as mensagens enviadas por telemóvel ou nas redes sociais, muitas vezes, ligando-se a pessoas que nem conhecem, alerta o especialista.

O canadiano recomenda que os pais estabeleçam pontes com os seus filhos. Quando a hora da separação se aproxima, há que assegurar que o reencontro vai acontecer. Antes de sair da escola, dizer “até logo”; à hora de deitar, prometer “vou sonhar contigo”.

Mas a separação não é só física, há palavras que separam como “tu és a minha morte” ou “tu és a minha vergonha”. Mesmo quando há problemas graves para resolver, a frase “não te preocupes, serei sempre teu p ai”ajuda a lembrar que a relação entre pai e filho é mais importante do que o problema. Hold on to your kids é o nome do livro que escreveu e onde defende esta teoria.
A importância de brincar

A quarta necessidade a ter em conta para garantir o bem-estar dos filhos é a necessidade de descansar. Cabe aos adultos providenciar o descanso e este passa por os pais serem pessoas seguras e que assegurem a relação com os filhos.

As crianças precisam que os pais assumam a responsabilidade da relação, que mantenham e alimentem a relação, de modo a que elas possam descansar e, nesse período, desenvolver outras competências. Uma criança que está ansiosa pela atenção dos pais não está atenta na escola, por exemplo.

Brincar é a quinta necessidade a suprir. Não há mamífero que não brinque e é nesse contexto que se desenvolve, aponta Neufeld. E brincar não é estar à frente de uma consola ou de um computador; é “movimentar-se livremente num espaço limitado”, não é algo que se aprenda ou que se ensine. E, neste ponto, Neufeld critica o facto de as crianças irem cada vez mais cedo para a escola, o que não promove o desenvolvimento da brincadeira. “Os ecrãs estão a sufocar a brincadeira e as crianças não têm tempo suficiente para brincarem”, nota o psicólogo clínico que, nas últimas semanas, fez um périplo por vários países europeus, tendo sido ouvido no Parlamento Europeu, em Bruxelas sobre “qualidade na infância”.

Por fim, a sexta necessidade é a de ter capacidade de sentir as emoções, de ter um “coração sensível”. “Estamos tão focados em questões de comportamento, de aprendizagem, de educação; em definir o que são traumas; que nos esquecemos do que são os sentimentos. As crianças estão a perder os sentimentos quando dizem ‘não quero saber’, ‘isso não me interessa’, estão a perder os seus corações sensíveis”, diz Neufeld.

Em resumo, é necessário que os pais criem uma forte relação emocional com os filhos, de maneira a que estes sejam saudáveis. Os pais são os primeiros e são insubstituíveis na educação dos filhos e são eles que devem ser responsáveis pelo seu desenvolvimento integral e felicidade. Se assim for, estarão também a contribuir para o bem-estar da sociedade."

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Dois corpos num só







"Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar 
o sentido dos sentidos, o sentido da vida."
Joaquim Pessoa


terça-feira, 9 de abril de 2013

"... o compromisso de transformarem a vida duma criança, sempre que lhes for possível, num fim de semana."

"O Dia Seguinte" é o texto mais fantástico que já li sobre separação, sobre pais e sobre filhos.

Começa assim: "Diante da separação há quem fique melhor e mais bonito e quem azede e se consuma em rancor." 
Eduardo Sá continua depois:

"1 - Não vale a pena termos ilusões: aquilo que não esclarecemos e não resolvemos com os nossos pais, não será uma relação amorosa, por si só, que irá sossegar. Mesmo que muitas pessoas construam uma nova família como se, com ela, pusessem o “conta-quilómetros” do seu coração mais ou menos a zero. Em primeiro ligar, ninguém constrói uma família. É, muito mais, ela quem nos constrói. Em segundo lugar, se uma família é constituída por todas as pessoas que têm um lugar dentro de nós, todas as famílias são numerosas (ou, mesmo, uma multidão), se bem que o respetivo “organograma” não corresponda, muitas vezes, à dinâmica informal de importância que cada pessoa merece. Em terceiro lugar, ninguém começa uma família do princípio (e, sendo assim, essa ideia de “constituir uma família”, não é, sequer, sensata, porque presume que uma família se inicia - ou se consuma - quando temos filhos quando, na verdade, ela se concretiza quando somos filhos). Somos, desde sempre e para sempre, filhos e, por inerência, somos, para sempre, a nossa família. Ora, quando duas pessoas se ligam, são duas famílias que se casam, por mais que aquilo que vincule cada uma à sua família não sejam, sobretudo, aspetos esclarecidos ou resolvidos mas, muitas vezes, dores por cicatrizar. Mais do que possa parecer. Daí que eu compreenda que, duma forma mais ou menos banal, se aceite que, primeiro, surge o namoro e, só depois, o casamento. Mas, tomando esta ligação entre dois conjuntos tão complexos, como são duas famílias, talvez a sequência correta se passe assim: quando as pessoas namoram vão-se casando, devagarinho; e quando se casam, namoram melhor (desta vez, na companhia das suas famílias). E é aqui que, por falta deste namoro entre duas famílias (que, raramente, cresce e se aprofunda), uma separação se vai desenhando devagarinho. Às vezes - reconheço - parece-me que o mundo anda virado de pernas para o ar. Para as pessoas, o namoro acaba quando se inicia o casamento. E caracteriza-se por birras, discussões e amuos... Mas, para mim, o namoro começa quando as pessoas se casam. E não pode nem deve dar lugar a almas gémeas nem a um clima do género... Dupond e Dupont. Precisa de conflitos insubstituíveis. Vale pelo ênfase, claro, mas... um casal que não se irrita (pelo menos, uma vez por semana...) não é um casal; é uma sonolência militante... E é com ela, diante de tudo o que, sendo nosso, não casa com o outro, que se constrói um comboio de pequenos-nada, embrulhados em silêncio, com que se tece qualquer separação. É por isso que, inevitavelmente, todos os divórcios se dão por mútuo consentimento. E, por isso mesmo, não deixam de ser... litigiosos. Se bem que, bem vistas as coisas, o litígio devesse ser, pelo menos, tão dirigido ao outro como a nós próprios... E aos nossos pais... E à nossa família... Por mais que isso, raramente, seja assumido.

2 - Neste contexto em que duas pessoas tentaram, com inequívoca generosidade, começar uma família mais ou menos do zero (e, à medida que o tempo passa, foram confrontadas com faturas que caiem de surpresa, para um e para outro) gerir a vida dos filhos não é fácil. Porque tudo se mistura: tudo o que nunca se esclareceu nem se resolveu com os nossos pais; tudo o que nunca se esclareceu nem se resolveu com a pessoa com quem se foi vivendo; tudo o que nunca se esclareceu nem se resolveu, dentro de nós, em relação aos nossos pais, aos nossos filhos e à pessoa com quem se foi vivendo. Ou seja: todas as separações exigem ressentimentos e remorsos. Se eles ficam em banho-maria, e debitamos a culpa ao outro, eles transformam-se em rancores. Se os repartimos com quem nos foi magoando (e basta que isso se faça na intimidade do nosso diálogo interior) ganhamos clarividência e sabedoria e, seguramente, teremos chegado a um planalto onde, finalmente, partindo desse balanço de vida, se dá o salto para nos virarmos do avesso e crescermos, em relação a tudo o que fomos deixando de esclarecer e de resolver, como, até aí, nunca o teremos feito. Isto é: diante duma interpelação tão aguda como uma separação, há quem fique melhor e mais bonito, e quem azede e se consuma em rancor. Aqueles que ficam melhores e mais bonitos tornam-se bons pais. Os outros, vão deixando de o ser. No limite, uma fórmula do género: “Se dependesse de mim, faria de outro modo...” será sempre batota. Porque, como em todas as outras áreas da nossa vida, também diante duma separação, crescer é escolher. Reconheço, portanto, que há muitas separações que funcionam como uma espécie de “entidade reguladora da parentalidade”, para muitas mães e para muitos pais, porque os ajudam a serem os pais que, por mais que quisessem ter sido, nunca terão conseguido alcançar.

3 - Diante de tudo isto, quando se trata de dividir os filhos pelos gestos de parentalidade dos pais, o grande obstáculo não será nunca judicial. Tem, sobretudo, a ver com a honestidade dos pais diante de todos os sobressaltos interiores que, até à separação, geriram, sem querer, numa fuga para a frente. Por tudo isto, tenho esperança que o verão possa representar um momento de reconciliação de muitos pais. Sobretudo, consigo mesmos. Para que, depois, tudo se torne mais simples quando se trata de repartir os tempos dos fi lhos com quem, podendo não ser hoje a escolha em que se revejam, terá sido uma pessoa escolhida por si. Incipiente, ingénua, impulsiva, deprimida ou, irresponsável, dir-me-ão. Provavelmente... Mas, todavia, uma escolha sua. Assim compreendam que se errar é humano e insistir num erro se torna diabólico, não reconhecer um erro, nem as omissões com que ele se teceu, compromete, de forma mais ou menos catastrófica, o futuro. O seu e o dos próprios fi lhos. Daí que “refazer-se a vida” seja uma fórmula hábil, muito do agrado das pessoas que receiam transformar-se, que as leva a ir por diante, começando novas relações ilusoriamente do zero, sem nunca saírem de tudo aquilo que nunca esclareceram nem resolveram e que, por isso mesmo, lhes foi encurralando o coração.

4 - Repito-me: tenho esperança que, neste verão, os pais, por mais que sejam os ressentimentos e os remorsos que os fraturam, entendam que uma mãe e um pai são direitos fundamentais de todas as crianças. E que os pais que não são capazes de se dividir, de forma paritária, por tudo aquilo que entendem ser prioritário para si, talvez não estejam à altura do compromisso que, tacitamente, assumiram com os filhos: o compromisso de estarem vivos, por dentro, para sempre; o compromisso de, se bem que vacilem sempre que a vida os sobressalta, serem justos e sensatos, ousados e serenos; o compromisso de serem humildes e corajosos; o compromisso de nunca fugirem da tristeza e, por isso mesmo, o de jamais desistirem de ser felizes; e o compromisso de - por mais que seja diante dos problemas que todos os aprendemos a resolver - transformarem a vida duma criança, sempre que lhes for possível, num fi m de semana. E as férias grandes numa oportunidade de reconciliação com o passado sem a qual, seja qual for o futuro que se escolha, o dia seguinte chega, para sempre, tarde demais."